
O vazio existencial
O vazio existencial
A árvore linda do meu jardim
Possui dois lábios que sabem beijar
Uma copla loira solta no ar
Cheia de frutos… todos para mim.
A árvore tem personalidade
Um suave perfume para dar
Certeza secreta no seu olhar
Admiro a sua grandiosidade!
A árvore tem um nome interessante
Há muito gravado no meu coração
Nela vivo, ela faz-me sonhar…
Seu livre caminhar de jovem amante
Nos tempos difíceis dá-me sua mão
P´ra toda a eternidade a vou amar.
Tudo em mim morre tão lentamente
O sorriso tão vivo de então
Lancei-o ao vento sul, norte, em vão
Meu olhar azul alimenta a mente
Vejo fugir nuvens, longe a gente
As pancadas morrem-me no coração
Tudo o que era belo!... Pura ilusão
Oh! Entristece-me a noite quente.
No comboio triste entrei ascendente
Deslizei nos carris da aventura
Descansei nas praias azuis do mar…
Todas as emoções de antigamente
As atei, só, num molho de ternura
Oh que força em mim tem o verbo amar!
Teu olhar de menina, lua cheia
Pálido sentir da noite escura
De gritos, violência, sofrimentos
Que o egoísmo humana, cá, semeia.
Tua cor sofrida amarelada
Está no grito da criança esfomeada
Está no choro da mulher malfadada
Nas vidas inocentes encarceradas.
Não desvendes da noite o manto escuro
Oh deixa-me descansar sossegado
Deixa o sofrimento morrer de sofrer
Temos esperança, vem, ó mundo puro
Traz tua força, deixa de estar calado
Traz contigo um novo amanhecer.
Entrou o luar timidamente
Encostou-se à parede do teu quarto
Desenhando nela uma silhueta de gente
Que olhava teu corpo intensamente.
Aproximaste-te dela de mansinho
Desenhaste-lhe uns lábios quentes
Uns braços fortes, um olhar azul
Com muita ternura, muito carinho!
No silêncio da noite, fez-se gente
Falaram de amor, de aventuras de beijos
Colaram-se devagarinho para sempre
E o luar que lá no alto tudo via
A este milagre calmamente assistia
Ah! Foi-se apagando devagarinho.